domingo, março 27, 2005

Páscoa em Angola

É 6ª feira santa. Depois de uma ida à praia decidí passar pela igreja ao lado de minha casa para saber a que horas haveria celebrações. O "informador" foi um senhor que me informou:
- Hoje há missa às 19h30 na "capela".
- Então e no Domingo, a celebração pascal? - perguntei eu.
- No Domingo é às 7h30.
- Da noite?
- Não, não, não! Da manhã, como todos os dias.
- E mais tarde? - já que ao Domingo, acrodar às 7h da manhã para ir à missa, é puxado.
- Mais tarde... às 9h
- Da noite?
- Não, da manhã, e antes que me pergunte se há mais alguma, digo-lhe que há uma às 11h, da manhã também!

Depois de ter levado mais uma lição contra a perguiça matinal, apressei-me a ir aprontar-me, uma vez que já eram 19h10 e dentro de pouco começava a celebração na "capela". Como já havia bastante movimento na zona, decidi despachar-me, para conseguir entrar, ou pelo menos conseguir ver algo na "capela".

Já de trajes domingueiros, dirigi-me para as traseiras da igreja, onde o informador me tinha informado ser a "capela". À chegada, surpresa total: é que a "capela" é nada mais que um descampado enorme, com árvores pelo meio, já cheio de pessoas (pelas minhas contas +- 2.000!). Os bancos foram retirados de dentro da igreja e colocados na rua. Uma imensa aparelhagem de som ladeava um altar improvisado. Em relação às pessoas, a primeira impressão foi sem dúvida a idade! Enquanto em Linda-a-Velha ou Mora nas missas a média de idades ronda os 65 anos, aqui estava-se mais perto dos 25. Fantástico! Por não ter lugar sentado, fiquei na parte de trás em pé.

A celebração começou, e garanto-vos que nunca me custou tão pouco ficar 1h30 em pé! Começando pelo padre: falou sempre de uma maneira descontraída e nunca repreendedora, algo quase desconhecido em Portugal. Por várias vezes todos os presentes se riram desinibidamente das passagens humorísticas usadas pelo padre e ao lançar para o ar uma pergunta, todos respondiam.

Para mim o ponto alto foi sem dúvida a teatrelização da paixão de cristo. Um grupo de jovens e alguns padres, interpretavam os diálogos, com alguns adereços improvisados e sempre com muita convicção na voz.

Quando a reveração da cruz chegou ao fim veio a parte de beijar a cruz, e aí retirei-me. Primeiro por pessoalmente não apreciar beijoquices a pézinhos ou cruzes; depois porque a fila formada foi enorme; já me doiam as pernas e se juntar o aparecimento em Luanda dos primeiros casos de febre hemorrágica... quanto menos confusão, melhor.

Sem dúvida seria altura de a igreja em Portugal mudar. Para mim é óbvio que alegria, discurso simples, prático e até divertido é bem mais eficaz na difusão da mensagem cristã do que os discursos enfadonhos e acusativos.

Boa Páscoa, e lembrem-se que se é feriado, é porque Jesus morreu na cruz para depois resuscitar...

Abraços e beijinhos.

Pedro